Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: www.escritas.org/pt/ 

 

AMÂNDIO CÉSAR

 

Amândio César Margarido Pires Monteiro, nasceu a 12Jul1921, em Arcos de Valdevez, Portugal.

Licenciado em Ciências Histórico-Filosóficas, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, foi um dos elementos do grupo "Poesia Nova" e fundador da revista "Quatro Ventos" (Braga, 1954-1957).

No dizer de Jorge de Sena, «se a sua poesia se integra, apesar de uma certa versatilidade, num lirismo tradicional e tradicionalista, os seus contos aproximam-no do neo-realismo literário na forma de tratar a terra duriense».

Como ensaísta e crítico literário, dedicou parte da sua actividade à divulgação das literaturas brasileira e africana de expressão portuguesa, nomeadamente a angolana.

Faleceu a 21 Ago 1987, na sua residência em Lisboa.

 

 

 

REVISTA DE POESIA E CRÍTICA -  Ano V  -  No. 7. Brasília, 1981.   Diretor Responsável: José Jézer de Oliveira
Ex.. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

CHANAAN

 

 

Neste fim de tarde estival
com céu, sol e nuvens  misturadas
meus olhos são um planalto latente,
diante das suaves colinas de Israel.

 

Óh Terra Prometida e ansiada nos arcanos da memória

quando eu lia a vida heróica dos varões

que, em mão segura, conduziam o povo eleito!

Óh mulheres fortes,

úteros abertos para um parto que se processa

em todos os tempos e em todas as idades!

Óh funda de David erguida e desfechada

contra todos os gigantescos Golias

que barram os caminhos

e ameaçam a insegura segurança

das doze tribos, antes e depois,

de todas as Diásporas!

 

Meu olhos são um planalto latente

onde flue o tempo e flue a vida,

passada e a haver. As nuvens correm a Ocidente

levando minhas palavras, meus sentimentos,

meus anseios e minhas lágrimas de alegria.

 

Aqui cheguei: à Terra Prometida.

Chanaan me espera com seus olorosos pomos,

com seus frutos sazonados por este sol diferente,

com seus pastores tangendo tractores que abrem fundo

os sulcos em que as sementes vão ser lançadas.

Chanaan me espera com suas águas lustrais,

caminhando invisíveis para que o Naguev

deixe de ser terra calcinada,

até à derradeira erva seca, roída pelas cabras

e regresse a ser um tapete verde, esperançoso

de todos os trigais ondulantes,

de todos os laranjais que perfumem o ar,

de todos os vinhedos olorosos de mosto,

antes de o serem,

com seus pomos ricos de sabor merecido!

 

Chanaan me espera, dentro dos olhos,
planalto latejante.

Nas amêndoas e nozes da nova colheita,
nos figos e tâmaras em oferenda
— eu bendirei ao Senhor
por ma ter revelado,

antes que meus olhos se fechem para sempre,
antes que meu coração deixe de bater!

 

Beijo esta terra, neste fim de sábado,

quando todos se acham recolhidos. Até as luzes.

Minha oração, minha prece, é muda:

acção de graças, nas imagens que guardo nos meus olhos,

enquanto a noite vai chegando

junto ao mar cujo marulhar das ondas escuto,

junto à terra onde chega o perfume salino das águas,

junto ao rio que nele se engolfa a levar saudades

de Tel-Aviv a todos os povos do Mundo!

 

 

                                                       Tel-Aviv, Agosto 75

 

 

 

 

SÃO ESTAS

 

 

 

 

São estas as águas da pesca milagrosa

e estes os mares que viajou Jonas;

São estes os pomares que lembram Chanaan

mas que os homens de hoje ergueram aos céus;

São estes os caminhos da antiga pastorícia

e esta a estrada que conduziu à victória;

São estes os céus que viram o milagre

da Lei que foi entregue numa sarça ardente;

São estas as ruas onde dançou David

e este é o Povo dos juizos de Salomão;

São estas as muralhas que Herodes construiu

contra as quais choramos lágrimas de esperança;

São estas as pedras que a trombeta ruiu

ao halali de guerra soado em Jericó;

São estas as águas do rio Jordão

misteriosas águas a caminho do mundo;

São estas as aves que aqui fazem ninho

felizes do tempo que lhes deu a Terra;

São estes os Povos que aqui regressaram

perdidos no tempo, há milénios perdidos;

São estas as ruas, são estas as estradas

por onde entraram e por onde saíram os que invadiram;

São estas as searas, são estes os trigos

que, de novo, livres brotam já da terra;

São estes os laranjais, estes os pomares

que, de novo, verdes nos dão confiança;

São estes os barcos que sulcam os mares

como já sulcaram em tempos que foram;

São estas as pedras que restam do Templo

solenes e trágicas, dramáticas, hirtas;

São estes os olhos que ficaram parados

lá longe na História que agora é Vida;

São estas as cinzas, são estes os ossos

dos que foram queimados por serem judeus;
São estes os marcos, estes os limites

que separam Chanaan da terra queimada;

São estas as colinas, são estes os bosques,

estas as pedras, e estas as lágrimas,

estes os caminhos, e estes os rios,

estas as estradas, e estas as minas,

estes os monumentos, e estas as esperanças

—     Que esmaltaram de sonho,

os dias saudosos

quando meus olhos de anseio

e meu corpo cansado

repousaram sob os Teus céus

respiraram o perfume livre de Teu ar

—     Oh, Terra Prometida,

Oh, Jerusalém!

 

 

 

 

 

SEREI, QUANDO QUISERES

 

Serei flor dos teus prados verdes,
orvalho de teu rocio matinal,
grão de areia de tuas orlas marinhas,
fruto sazonado de teus pomares;

 

 

Serei lágrima de teus ocultos sofrimentos,
angústia de teus momentos dolorosos,
grito ululante de tuas imensas raivas,
soluço de tuas mais íntimas recordações;

 

Serei estrela da manhã anunciando o dia,

plenilúnio nas longas noites de vigília,

serei água das chuvas para tua terra sequiosa,

serei raio de sol que amadureça os frutos dos pomares.

 

Serei bala dizimadora nos carregadores de tuas armas
gatilho de tuas espingardas,
espingarda de teus exércitos,
cremalheira de teus carros de combate;

 

Serei canção anunciando Chanaan,
poema de guerra para teus compositores,
nota de música que soe nos espaços, sinfonia que arrebate os corações;

 

Serei arame farpado que tolha os passos ao inimigo,
parapeito de aço que faça frente às balas,
mina agressiva para explodir os carros de combate,
obus que defenda e alargue as tuas fronteiras;

 

Serei mineiro de tuas minas de cobre,
voluntário de teus kibutzes,
pastor de teus rebanhos de ovelhas,
pescador de tuas traineiras;

 

Serei sentinela de tuas marcas,
soldado de teus exércitos,
comando de tuas expedições,
locutor de rádios piratas;

 

Serei calceteiro de tuas estradas,
coleccionador de tuas relíquias,
defensor de tuas pedras vivas,
paleógrafo de teus escritos milenários;

 

Serei picador de estradas minadas,
marinheiro de tuas vedetas de guerra,
miliciano de teus helicópteros,
paraquedista de tuas forças ofensivas;

 

E serei canção de paz, no fim da guerra,
poema heróico no fim da vitória,
partitura que celebre o teu direito à vida,
sinfonia queque Te cante para todo o sempre

— quando Tu quiseres,
quando Tu me chamares,
Oh Jerusalém!

 

 

                           Entre Tel-Aviv e Jerusalém.

 

*

 

 

Página publicada em abril de 2021

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar